sábado, 16 de junho de 2007

Xadrez e poesia de Luís Vaz de Camões

No último final de semana, a Liga Uberabense de Xadrez realizou o II Torneio de Camões, dentro das Comemorações do Dia de Camões, com o Elos Clube de Uberaba e o Consulado de Portugal. O fato inusitado foi a apresentação de trechos das obras do escritor entre as rodadas disputadas.

Verdes são os campos
(Camões)
Verdes são os campos,
De cor de limão:
Assim são os olhos
Do meu coração.
Campo, que te estendes

Com verdura bela;
Ovelhas, que nela
Vosso pasto tendes,
De ervas vos mantendes
Que traz o Verão,
E eu das lembranças
Do meu coração.
Gados que pasceis

Com contentamento,
Nosso mantimento
Não no entendereis;
Isso que comeis
Não são ervas, não:
São graças dos olhos
Do meu coração.
post by Ellen Giese

Um comentário:

Leonardo Vivaldo disse...

Genial idéia! Xadrez e poesia!
Existe duas artes mais complicadas e ao mesmo tempo mais belas?!

Fica dois sonetos de Borges, que acredito tenham retratado perfeitamente o xadrez, a poesia, e a ponte entre os dois: a vida.

Saudações ao blog mais bonito do Xadrez Brasileiro! Bjs!

Ajedrez (Jorge Luis Borges)

I

En su grave rincón, los jugadores
rigen las lentas piezas. El tablero
los demora hasta el alba en su severo
ámbito en que se odian dos colores.

Adentro irradian mágicos rigores
las formas: torre homérica, ligero
caballo, armada reina, rey postrero,
oblicuo alfil y peones agresores.

Cuando los jugadores se hayan ido,
cuando el tiempo los haya consumido,
ciertamente no habrá cesado el rito.

En el Oriente se encendió esta guerra
cuyo anfiteatro es hoy toda la tierra.
Como el otro, este juego es infinito.

II

Tenue rey, sesgo alfil, encarnizada
reina, torre directa y peón ladino
sobre lo negro y blanco del camino
buscan y libran su batalla armada.

No saben que la mano señalada
del jugador gobierna su destino,
no saben que un rigor adamantino
sujeta su albedrío y su jornada.

También el jugador es prisionero
(la sentencia es de Omar) de otro tablero
de negras noches y blancos días.

Dios mueve al jugador, y éste, la pieza.
¿Qué Dios detrás de Dios la trama empieza
de polvo y tiempo y sueño y agonías?